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19 de junho de 2012

Porque meu filho não gosta de ler?


 
 Uma palavra aos pais, professores, pedagogos e bibliotecários sobre a difícil tarefa de incentivo a leitura.

Não  sou acadêmica no assunto, mais minha curiosidade,  experiência e algumas das minhas muitas leituras me fizeram entrever alguns aspectos negativos que podem levar, com certeza, ao fracasso desta difícil tarefa que é a formação de leitores. E é este conhecimento que gostaria de compartilhar aqui com vocês.
Primeiramente me lembro de certa vez ter lido, que erramos ao disser que é necessário incentivarmos o "habito de leitura" em nossos alunos. Por que o erro? Pensemos nos nossos hábitos, muitas das vezes eles podem ser mudados, deixamos antigos hábitos e adotamos novos a todo momento. Assim a leitura tal como um hábito também poderá ser deixada de lado e trocada por qualquer outro hábito a qualquer hora.
Devemos sim, incentivar o amor pelos livros e pela leitura. Porque aquilo que amamos não abandonamos facilmente. É desta maneira que poderemos formar verdadeiros leitores, aqueles que iram fazer da leitura mais do que um simples hábito, mais uma  verdadeira paixão, uma fonte de constante inspiração, crescimento pessoal, conhecimentos multidisciplinares, enfim uma eterna companheira.
Com certeza algum de vocês já leram em algum lugar sobre a citação que faço a seguir:

"10 Direitos Imprescritíveis do Leitor"

1-O direito de não ler.
2-O direito de saltar páginas.
3-O direito de não acabar um livro.
4-O direito de reler.
5-O direito de ler não importa o quê.
6-
O direito ao “bovarysmo” (doença textualmente transmissível).*
7-O direito de ler não importa onde.
8-O direito de saltar de livro em livro.
9-O direito de ler em voz alta.
10-O direito de não falar do que se leu.
  
Esta citação é retirado do livro "Como um Romance" do autor Francês Daniel Penac, livro este que considero de leitura imprescindível aos pais, professores, pedagogos, bibliotecários enfim a todos aqueles que estão engajados nesta difícil tarefa de formação de leitores. 
Logo no início de seu livro Daniel Penac faz uma colocação que considero chave nesta questão dos verdadeiros entraves na formação de leitores: "O verbo ler não aceita imperativo". 
Transformar a leitura em obrigação é o mesmo que criar mais um entre tantos outros obstáculos, a um possível  candidato a futuro e apaixonado leitor. E esta é a realidade com a qual os nossos educandos convivem, praticamente do início ao fim de todo seu período de formação escolar. Afinal qual de nós nunca teve que ler um livro, cuja leitura foi uma exigência de algum  professor, para responder aquele famoso questionário  comumente chamado ficha de leitura. 
E ai me perguntam os professores? Como então avaliar o leitor e  seu desenvolvimento no aprendizado da leitura?  Mais então respondo: Será que um simples questionário seria assim um instrumento tão eficaz nesta avaliação? Hoje em dia todos temos conhecimento de  que a internet é uma fonte inesgotável de tudo que se queira encontrar. Se buscarmos por exemplo na internet os dados de qualquer livro é possível quase sempre encontrarmos diversas referências, resumos, releases, enfim, diversas informações acerca daquela obra que poderão nos dar pistas suficientes sobre o enredo, sem necessariamente ler a obra em questão. Esta é claro, seria apenas uma das formas de burlar está tão celebre avaliação. 
Aos professores de plantão, eis uma dica preciosa, seja primeiramente você um leitor.  O professor que não gosta de ler não queira ele despertar no aluno o amor pela leitura e pelos livros. Afinal ninguém pode convencer o outro de apostar em algo que ele próprio não experimentou, não soará nada convincente. 
Além do mais o professor pode dispor de vários outros recursos que com certeza lhe permitirão conhecer o desenvolvimento de seus alunos no aprendizado da leitura. Uma boa opção que acho bastante interessante são as rodas de leitura, onde os alunos podem comentar livremente sobre suas leituras de sua escolha, sem ser necessariamente aquela leitura obrigatória, além de permitir uma rica troca de sugestões de leituras entre eles.
O professor neste caso tem um papel fundamental, uma vez que ele próprio deve comentar também sobre suas leituras, além de  sugerir aos alunos algumas leituras que possam vir a  interessar para eles.
Penac em seu livro já citado ilustra de forma contundente o papel do professor como grande provocador da verdadeira paixão do aluno pelo livro. É isto mesmo,  diria que depois dos pais, é o professor, o grande responsável pela tarefa de formar leitores. Podemos definir assim os três grandes pilares necessários ao sucesso desta complexa  tarefa de formação de leitores: os pais, a escola e o professor. 
Primeiramente os pais, pois são eles a primeira imagem e exemplo de leitor que a criança terá. Por isso pais, leiam para seus filhos, leiam com seus filhos e ouçam a leitura de seus filhos, se querem fazer deles grandes leitores. 
É importante observar, conforme nos lembra Penac, que um dos períodos de grande transformação para criança é a fase em que ela entra para escola. Fase esta que deve ser cercada de muitos cuidados, pois é neste momento que a criança se encontra pela primeira vez longe de tudo aquilo que lhe é familiar, longe da presença da mãe, longe de seus brinquedos, longe de tudo aquilo que lhe faz sentir-se aconchegada. Ali na escola frente a um estranho que é o professor ela passa a uma realidade completamente diferente, onde muitas atitudes podem ser decisivas para suscitar nela paixão ou aversão a uma série de coisas.
Portanto é fundamental que nesta fase os pais  acompanhem e fiquem bem atentos as suas reações, e que jamais em momento algum  deixem de fazer aquilo que já faziam por ela, ou seja, deixar que a criança aos poucos se torne independente por ela mesma, sem mudanças bruscas. Portanto pais, não deixem de ler para seus filhos, só porque eles já conseguem ler sozinhos. A leitura aquela ao pé da cama ou em outro momento qualquer feita pelos pais aos filhos, mais do que um momento de laser, representa um forte vínculo afetivo, e este deve se manter até que a criança se sinta segura o bastante para fazer por ela mesma as suas leituras e suas próprias descobertas.
Lembro-me de um episódio, no qual minha sobrinha nos primeiros anos de sua fase escolar, fez um comentário um tanto triste, que talvez reflita o pensamento de muitas outras crianças naquela idade:"Só porque agora já sei ler ninguém mais quer ler para mim!" Triste erro que cometemos ao julgar que pelo simples fato de  uma criança já saber ler, ela não  mais precise  de ninguém que leia para ela. Precisa sim, não só de quem leia para ela, como também de quem tenha paciência para acompanhar as suas leituras e ajudá-la em suas dificuldades,  apreciando também seus acertos.
A escola é aquela que através do seu corpo administrativo e direção, propicia aos seus alunos um terreno altamente fértil  para produção de futuros e apaixonados  leitores. O papel da direção de uma escola é fundamental na valorização do espaço da biblioteca como fonte inesgotável de recursos tão necessários a formação de leitores,  como também da valorização dos profissionais que nela atuam não como meros expectadores mais como verdadeiros promotores da leitura, dos livros e da apaixonante aventura que é ser um "Leitor".

Autora: Rosaine M. Mendonça

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